“As EPE constituem um dos eixos estruturantes da rede de ensino público português”

A Direção da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) defendeu a convicção de que as escolas públicas portuguesas no estrangeiro constituem um dos eixos estruturantes da rede de ensino público português e preenchem um dos desígnios estratégicos da promoção da língua e da cultura portuguesas no mundo, sendo de destacar esse papel no conjunto dos países de língua oficial portuguesa.

Em discurso de abertura do evento, proferido no âmbito do III Encontro das Escolas Portuguesas no Estrangeiro, que decorreu de 5 a 8 de maio, na EPM-CELP, Luísa Antunes, presidente da Comissão Administrativa Provisória, reiterou que “a necessidade de uma língua de identidade ganha hoje um relevo maior dada a globalização, a interação dos países num contexto de mercados internacionais, de partilha de conhecimentos, de saber, de cultura. Assumir a língua portuguesa como património de valor identitário e global fez e continua a fazer parte dos objetivos do Governo Português”.

 

A intervenção da Presidente da CAP, que transcrevemos abaixo, para além de transmitir a missão das Escolas Portuguesas no Estrangeiro e destacar as suas especificidades nos países em que se encontram, perspetiva o futuro a partir da consolidação do trabalho em rede e da Cooperação.

É uma honra e privilégio receber todos os presentes neste Auditório Carlos Paredes, enorme guitarrista português, cujo centenário comemoraremos no próximo ano letivo. Nesta escola comemorámos há dois anos o centenário de Saramago, mas também de José Craveirinha, patrono da nossa Biblioteca Escolar José Craveirinha.

Estamos, pois, num contexto de duas culturas com uma história comum e com uma língua comum. É neste contexto que nos movemos, é neste contexto que pensamos quando pensamos a educação, quando pensamos as nossas linhas de ação, quando pensamos nas possibilidades de aproximação entre os nossos povos irmanados por uma história e por uma língua. 

Neste encontro, à semelhança dos dois anteriores realizados em Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, a tónica será dada ao papel das EPE na promoção e difusão da língua portuguesa, ao trabalho em rede entre estas escolas e também entre estas e as escolas privadas de currículo português, bem como questões gerais de âmbito pedagógico que têm a ver com os desafios atuais das escolas face ao desenvolvimento tecnológico e às mudanças globais que enfrentamos.

Debateremos o papel da língua enquanto instrumento de compreensão do mundo, e de intervenção no mesmo e a questão incontornável da inteligência artificial no contexto do ensino e da aprendizagem.    

 As escolas públicas portuguesas no estrangeiro constituem um dos eixos estruturantes da rede de ensino público português e preenchem um dos desígnios estratégicos da promoção da língua e da cultura portuguesas no mundo, sendo de destacar esse papel no conjunto dos países de língua oficial portuguesa.

Faz este ano 50 anos sobre o 25 de abril que acelerou o processo de descolonização. A língua portuguesa foi escolhida como língua de unificação nacional em Moçambique bem como em outros países africanos cuja matriz linguística é plural. A necessidade de uma língua de identidade hoje ganha um relevo maior dada a globalização, a interação dos países num contexto de mercados internacionais, de partilha de conhecimentos, de saber, de cultura. Assumir a língua portuguesa como património de valor identitário e global sempre fez e continua a fazer parte dos atuais objetivos do Governo Português.

No entanto, as diferenças do uso da língua variam consoante os contextos, a história, as outras influências linguísticas. Esta diversidade é a riqueza particular de cada um dos povos, mas faz enriquecer a língua no seu todo. A comunidade de países de língua portuguesa foi alargada há cerca de cinquenta anos após o 25 de Abril, com as descolonizações dos países africanos que adotaram o português como língua oficial, e que ao longo destas décadas a foram enriquecendo cada uma com formas específicas lexicais e de uso da língua, o que representa uma riqueza mas simultaneamente um desafio para a comunicação entre os falantes e para a difusão de produtos culturais entre esta comunidade unida pela língua mas distinta na forma como a utiliza e adapta ao seu contexto.

Se olharmos para a língua e para a literatura em língua portuguesa, temos registos tão diversos como o de Saramago, Craveirinha, Mia Couto, Guimarães Rosa, e tantas vozes que enriquecem o nosso património linguístico. Temos a certeza que entre os nossos alunos, dos vários quadrantes, teremos alguns cultores da língua que a trabalharão como uma pedra preciosa, dando-lhe formas diversas e novas.    

Cabe-nos, portanto, a nós enquanto escolas cultivá-la, acarinhá-la, não a deixarmos empobrecer. Foi por isso que escolhemos esta data em torno do dia Mundial da Língua Portuguesa para os nossos encontros, centrando o nosso olhar no instrumento que nos faz pensar, que nos faz sonhar, que nos faz ansiar por um futuro diferente, mais harmonioso e justo.

Estarmos aqui nestes dias é uma oportunidade para falarmos também de interculturalidade, tendo como pano de fundo a nossa experiência no contexto em que nos é dado exercer a nossa tarefa educativa.  É também momento para debatermos o que cada um está a fazer face às mudanças cada vez mais rápidas que o mundo nos impõe nos dias de hoje. Como nos adaptamos às novas formas de informação e comunicação, que fazemos relativamente ao uso da inteligência artificial, o que será necessário fazer para regularmos esta nova questão que se impõe como incontornável.

Este ano poderemos analisar também a experiência da abertura de polos das EPE em vários locais geográficos e as questões que se colocam na implementação deste desiderato. A EPM-CELP abriu em dezembro passado o polo da Beira, indo ao encontro de um dos objetivos das EPE de expansão para outros pontos geográficos vários dentro do mesmo país. Esta abertura de polos corresponde por um lado a uma necessidade sentida e expressa pelos países falantes do Português de cooperarem com Portugal na missão de educação em língua portuguesa com padrões elevados de qualidade e, por outro, vem materializar o papel das EPE na promoção e na difusão da língua portuguesa e no apoio às comunidades em que se inserem. No entanto, isto vem certamente abrir novas necessidades e colocar-nos perante novas situações que importa debater em conjunto.

Somos, no fundo, também uma comunidade centrada numa mesma missão, embora com caraterísticas distintas, em mudança. Somos um corpo vivo que queremos nutrir com a contribuição de cada um de nós, com a partilha de experiências bem-sucedidas e menos sucedidas. Com abertura, com transparência.      

Isto remete-nos para a necessidade de trabalhar em rede. Temos a sorte de habitarmos geograficamente pontos distintos do globo, com esfericidades próprias e valências que as complementam. Os centros de formação das várias escolas, os vários projetos culturais de escola, as equipas pedagógicas podem e devem articular entre si, de maneira a rentabilizar os recursos humanos, materiais, a garantir trocas eficazes de experiências, rentabilização da formação dada em rede. Uma das poucas coisas positivas que a Covid nos trouxe foi a certeza de que é bem possível trabalhar à distância, e temos de usar essa ferramenta cada vez mais e de forma mais eficaz, não descurando claro dos encontros presenciais para fortalecer as relações interpessoais. 

E como hoje temos a possibilidade de estarmos juntos presencialmente, vamos fazer destes encontros um momento de grande partilha, de crescimento nosso enquanto profissionais e das nossas instituições. Que terminemos o encontro como um novo alento e novas ideias é o que perspetivo.

Obrigada!”