No âmbito das comemorações dos 50 anos da Independência Nacional, será lançado no próximo dia 5 de junho, às 17h30, na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP), o livro "Prognóstico para Depois da Utopia", uma antologia que reúne textos de duas gerações de escritores moçambicanos, em diálogo com a memória, o presente e o futuro do país.
A obra, composta por prosa e poesia, propõe um olhar plural e provocador sobre os caminhos da nação após o sonho da utopia pós-independência. E inscreve-se como um exercício crítico e sensível sobre os caminhos trilhados desde a independência. As dores, os silêncios e as promessas não cumpridas ganham voz, mas também trazem a esperança, o ideário e a vontade de continuar a construir.
Participam na antologia, coordenada por Teresa Noronha, João Paulo Borges Coelho, Marcelo Panguana, Sérgio Raimundo, Miguel César dos Santos, Sónia Sultuane, Pedro Pereira Lopes, Eduardo Quive, Álvaro Carmo Vaz, Mélio Tinga, Luís Carlos Patraquim, Mauro Brito, Lica Sebastião e Álvaro Taruma, numa composição que cruza maturidade literária e novas vozes da escrita moçambicana e que conta com o prefácio de Ana Mafalda Leite.
A dimensão estética do livro é enriquecida com a participação de 12 artistas plásticos, responsáveis pelas separações visuais entre os textos: Languana, Pekiwa, Luís Cardoso, Silva Dunduro, Dito Tembem, Pmourana, Suzy Bila, Carmen Muianga, Idasse Malendza, Samuel Djive, Saranga e João Donato. O diálogo entre palavra e imagem pretende expandir as possibilidades de leitura e interpretação da experiência moçambicana ao longo dos seus 50 anos de independência.
"Prognóstico para Depois da Utopia" não é apenas uma celebração, mas um convite à reflexão crítica — literária, estética e política — sobre o país que somos e aquele que ainda procuramos ser.
O evento de lançamento contará com a presença dos autores e artistas participantes, e será aberto ao público.
Sinopse
Cinquenta anos se passaram desde que uma auspiciosa chuva lavou as lágrimas de uma guerra, fazendo nascer um país. Pôde então lavrar-se uma terra independente, orgulhosa das suas sementes. Mas que sonhos dessa aurora se carregam ainda na bagagem? As saudades, que nunca esmorecem? Que lâminas continuam a tinir, no remir das mágoas? Iremos nós, filhos da guerra popular, cinquenta anos depois ao Estádio, dançar com o melhor dos nossos fantasmas? Continua o pai, tacteando no vento, à procura de respostas? Abandonámos a Ilha à deriva, com as cinzas dos ancestrais esbraseadas pelo esquecimento? Que fazer dos seus fardos de ilusões, amassados pelo tempo, enquanto os corvos, nascidos duma noite ressentida, debicam as migalhas do passado e as do futuro?
Cinquenta anos de independência e a perspectiva dos nossos escritores e artistas, apesar de maculada de perguntas, visa ainda o futuro. E gritam, Presente, confiados em que a terra é mais do que a soma das suas circunstâncias, é um ideário, e por isso adiam o prognóstico para depois da utopia, dispostos a progredirem na obra, para que, enfim, todas as cidades cintilem ao anoitecer.