Jorge Ferrão e o estado da Educação em Moçambique

O Magnífico Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo (UP), Jorge Ferrão, esclareceu, na terça-feira, que os problemas enfrentados no Sistema de Ensino Público de Moçambique estão aliados às políticas de massificação da educação, adotadas, em 2020, através da famosa Declaração de Dakar, que defende a Educação Para Todos (EPT) para cada cidadão e cada sociedade.

“O nosso ensino público é extremamente massificado. Temos neste momento, no sistema, cerca de 10 milhões de jovens. E estes números assustam a qualquer um que seja para organizar o sistema. É difícil porque nos falta o essencial. Falta-nos a estrutura para fazer esse ensino”, avançou Jorge Ferrão durante a sua intervenção “A organização do Sistema de Ensino Público de Moçambique”, na terça-feira, no âmbito do III Encontro das Escolas Portuguesas no Estrangeiro que anteontem terminou.

Resumidamente, a Declaração de Dakar insta os governos a comprometerem-se em mobilizar uma forte vontade política nacional e internacional em prol da Educação para Todos, desenvolver planos de ação nacionais e incrementar de forma significativa os investimentos em educação básica. De acordo com o reitor da UP, “até 2016, quando eu dominava os dados, nós tínhamos cerca de 12.500 escolas primárias e 300 secundárias. Os dados mais recentes dão-nos cerca de 13.638 primárias e 648 secundárias. E isto deriva muito da famosa Declaração de Dakar, cuja palavra de ordem era não deixar ninguém para trás. O declínio de todo o sector da educação no continente deve ter começado a partir desse momento”.

De acordo com o académico moçambicano, que também ocupou as pastas do pelouro da Educação e Desenvolvimento Humano, entre os anos 2015 e 2016, o primeiro sacrificado desta inovação foi o pré-primário. “Exatamente o nível que devia ter sido reforçado. E os países decidiram que o pré-primário não serve, não ajuda, vamos começar pela 1.ª classe e depois se vê o resto. E não tendo esse preparo pré-primário, que eu acho o principal, não permite que haja uma aprendizagem do essencial e da socialização, e depois o ensino continua muito sofrido”, concluiu.

O III Encontro das Escolas Portuguesas no Estrangeiro, este ano dedicado ao tema “Construindo Pontes Rumo à Democracia Cultural – Desafios e Oportunidades das EPE”, decorreu de 5 a 8 de maio em curso, na EPM-CELP, em Maputo.

Organizado pela Direção-Geral da Administração Escolar, através da Direção de Serviços de Ensino e das Escolas Portuguesas no Estrangeiro, em colaboração com a EPM – CELP e com o apoio da Embaixada de Portugal em Moçambique, o encontro contou com momentos culturais, conferências em torno da cultura e da educação, lançamento de uma publicação, palestras sobre o funcionamento das EPE como polos da Língua Portuguesa, diversos debates sobre a interculturalidade, os desafios e oportunidades do uso da inteligência artificial em contexto escolar  e reflexões relativas ao papel das EPE nos territórios em que se encontram.

 

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