O Camões – Centro Cultural Português em Maputo foi, no dia 1 de outubro, o epicentro da celebração do diálogo entre literatura e artes visuais. O encontro juntou a palavra escrita da escritora Emília Ferreira ao traço e à cor da ilustradora Ivone Ralha, num evento que serviu de pretexto para o lançamento do livro “O Mensageiro”, editado pela EPM-CELP, e para a inauguração da exposição “Sobre textos – dançando com as palavras dos outros”.
No seu discurso, Jorge Monteiro, o embaixador de Portugal em Moçambique, destacou a relevância cultural e simbólica do trabalho das artistas, Emília Ferreira e Ivone Ralha, sublinhando que ambas “pertencem a uma comunidade maior, que começa da língua, da cultura, das histórias e dos valores, mas também das diferenças e tensões que nos definem”.
Referindo-se à escritora, o embaixador afirmou que “Ferreira é autora de cerca de 30 livros, entre contos, romances, poesia e ensaio. A sua escrita cruza imaginação poética com reflexão histórica e cultural. Algumas das suas obras, como “Sopros do Mar Antigo”, foram adotadas como Obras de Leitura Obrigatória em escolas portuguesas”, caso da EPM-CELP, por exemplo.
Sobre Ivone Ralha, o diplomata destacou a dimensão intercultural da sua arte, referindo que as suas ilustrações “ajudam a preservar e a reportar tradições culturais moçambicanas no contexto contemporâneo, contribuindo para a sua visibilidade nacional. Participa, assim, ativamente, na verdadeira diplomacia, não formal. As suas ilustrações tornam o livro não apenas um objeto literário, mas também um espaço de encontro entre culturas”.
Luísa Antunes, presidente da Comissão Administrativa Provisória da EPM-CELP, lembrou que “este é o quinto livro que Ivone Ralha ilustra para nós. O primeiro foi “Sopros do Mar Antigo”. E os seus livros encaixam-se como peças de um puzzle, onde há espaço para a poesia e uma imagem à procura de sentido e de amor, na fluidez das águas”.
O representante do Millennium Bim, instituição parceira, sublinhou, por sua vez, que a exposição inaugurada “é um exemplo de como a arte pode unir palavras, ideias e geografias”, acrescentando que o trabalho de Ivone Ralha “convida à reflexão sobre as múltiplas formas de inscrição cultural, contribuindo para o fortalecimento das relações entre os nossos países e para a consolidação de um espaço comum de expressão artística”.
“Os meus desenhos foram pensados para dialogar com os textos”
Num registo descontraído e confessional, Ivone Ralha partilhou o seu olhar sobre o processo criativo e a própria exposição. E confessou: “fujo de fazer exposições. Não é vergonha do meu trabalho, é aflição. Estes originais foram feitos para caberem num scanner, para serem publicados em livros, jornais, revistas. Os meus desenhos foram pensados para dialogar com os textos, não para pendurar em paredes. Mas aqui, deixo que dancem com as palavras dos outros”.
A artista acrescentou, com humor e humildade, que não se vê como “uma ilustradora da primeira divisão”, mas “faço o que posso. Não tenho aquela alma de artista que não respira se não pintar. Faço com prazer, com desorientação e com respeito pelas palavras que me inspiram”.
Num discurso projetado em vídeo, Emília Ferreira agradeceu à escola e lembrou que “O Mensageiro” nasceu há quarenta anos e a “grande questão que me moveu, quando escrevi o texto, era: como se sentiria alguém que nunca viu o mar? É emocionante ver esta história, depois de quatro décadas, chegar novamente às mãos de novos leitores”.